Bastou o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que a regra da verticalização das coligações vale nas eleições gerais de outubro para o número de candidaturas a presidente encolher. Menos de 24 horas depois de o tribunal proibir alianças nos Estados entre partidos adversários na corrida presidencial, o PFL enterrou hoje a candidatura própria a presidente. Ao mesmo tempo, representantes da ala governista do PMDB e o grupo de oposição ao governo começaram a negociar a implosão da candidatura do ex-governador e ex-secretário de Governo e Coordenação do Estado do Rio Anthony Garotinho.
As cúpulas governista e de oposição marcaram para quarta-feira (29) uma nova reunião da executiva nacional da legenda. "Tomei a iniciativa de propor o encontro para que possamos discutir o quadro atual, com verticalização", afirmou o presidente nacional da sigla, deputado Michel Temer (SP), ao itir que o limite imposto às alianças dificulta o lançamento de um candidato da agremiação à istração federal. "A verticalização consolida e acelera a necessidade de aliança com o PSDB", resumiu o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), ao revelar que o prefeito da capital fluminense Cesar Maia (PFL), descartara a candidatura.
A verticalização também dificulta o ingresso dos pequenos partidos na corrida presidencial. "Se não houver uma coligação mínima que seja entre pequenas legendas como o PDT, o PPS e o Psol, a candidatura a presidente fica inviabilizada", avaliou o senador Jefferson Peres (PDT-AM). Na condição de presidenciável do partido, Peres propõe aos pré-candidatos a presidente Roberto Freire (PPS) e Heloisa Helena (Psol), uma aliança entre "as legendas de esquerda que não se desmoralizaram pelas denúncias de corrupção".
A aliança é necessária não só para aumentar o tempo exíguo de que as pequenas legendas dispõem na publicidade eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Essas siglas também dependem de alianças nos Estados para eleger mais deputados e atingir o coeficiente eleitoral. Será preciso vencer a barreira dos 5% dos votos em pelo menos nove Estados para assegurar a sobrevivência.
Apesar da troca de sopapos entre governistas e oposicionistas do PMDB por causa da liderança da bancada na Câmara, as cúpulas das duas alas retomaram o diálogo. Os governistas querem convocar uma convenção nacional para o dia 7 ou 8. Sem falar em nomes de candidatos, eles pretendem descartar a tese do candidato próprio na convenção, onde, acreditam, o que pesará é a conveniência local dos convencionais.
"Agora, nada nos separa. Com a verticalização, tudo nos une", afirmou hoje o senador José Sarney (PMDB-AP), convencido de que a agremiação não tem mais interesse em lançar candidato. "Erraram os que apostaram em candidatura própria e também os que disseram que queríamos fazer aliança com o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva", acrescentou o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Bem-humorado, Sarney relembrou o presidente Tancredo Neves para criticar Garotinho. "Como dizia Tancredo, ele (Garotinho) quer ser Tiradentes com o pescoço da gente. Mas o fim de toda raposa é ficar pendurada no pescoço das mulheres."
O partido pretende disputar o governo de 18 Estados, apoiado nas mais diversas alianças. Neste caso, tanto a candidatura própria como qualquer coligação para presidente impediriam a maior parte das alianças regionais articuladas. "A Roseana (Sarney, senadora) será candidata ao governo do Maranhão e, como ela é do PFL, queremos estar livres para que o PMDB possa apoiá-la", disse Sarney, sem titubear. Da mesma forma, o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), avisou que não embarcará na candidatura de Garotinho, pois pretende fechar com o PSDB e o PFL pernambucanos e se candidatar ao Senado com o apoio dos três partidos.
