Caos marca o julgamento de Saddam Hussein

O julgamento do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein viveu hoje (29) uma nova audiência caótica com o abandono da sala do tribunal dos principais acusados e de seus advogados

O novo juiz encarregado de presidir o processo, o curdo Rauf Rashid Abdel Rahman, declarou que não toleraria insultos e, tentando mostrar controle da situação, prosseguiu com a audiência do processo contra o ex-presidente e de sete de seus colaboradores pela matança, em 1982, de 148 xiitas na cidade de Dujail, ao norte de Bagdá.

Após quatro horas e meia de sessão, o juiz adiou a audiência para quarta-feira

A primeira sessão em mais de um mês foi marcada por insultos. Visivelmente irritado, Saddam abandonou hoje a sala do tribunal após uma acalorada discussão com o novo juiz por causa da expulsão de seu meio-irmão, Barzan al-Tikrit.

O meio-irmão, ex-chefe do serviço secreto iraquiano, começou a fazer uma longa exposição sobre sua saúde quando o juiz mandou que se calasse. Al-Tikrit continuou falando e Rahman o expulsou da sala

"Ele somente queria dizer ao juiz que estava doente e explicar-lhe seu estado de saúde", interveio Saddam, referindo-se ao meio-irmão. O ex-ditador acusou a corte de "ser um tribunal americano" ou que cumpre as instruções dos Estados Unidos.

Barzan Ibrahim – um co-defensor de Saddam – foi retirado pelos guardas depois de chamar a corte de "filha da p…", enquanto Saddam gritava "abaixo os traidores" e "abaixo a América"

Os advogados se retiraram da sala em protesto pelo ocorrido e o juiz designou defensores públicos. Então, Saddam se levantou: "Rejeitamos todas as pessoas que sejam designadas pelo senhor. É meu direito escolher um advogado", disse. A seguir, voltou-se para onde se encontravam os defensores públicos e disparou: "Se permanecerem nesta sala, vocês são uns demônios"

Dois outros acusados também rejeitaram os defensores públicos e tiveram autorização para deixar a sala. Depois de continuar discutindo com o juiz, Saddam disse que queria sair da sala. Ao que o juiz respondeu: "Saia!

"Dirigi o país por 35 anos e o senhor me ordena que saia", declarou o ex-ditador. "Eu sou o juiz e o senhor é o acusado e deve me obedecer", disse o juiz. A discussão se prolongou um pouco mais e, por fim, o ex-ditador deixou a sala escoltado

Os advogados de defesa disseram que a caótica audiência mostrou que o julgamento não era justo e os críticos questionaram a independência da corte após a nomeação de Rahman este mês depois da renúncia de seu predecessor por causa de reclamações de que ele não estava fazendo o suficiente para conter os excessos de Saddam

Um julgamento justo é considerado vital em uma nação que tenta reconciliar a minoria sunita, que governou o país sob Saddam, e a maioria xiita, que agora controla o governo. Um membro da equipe de advogados disse que eles boicotarão a próxima sessão a menos que o juiz se desculpe pelas expulsões.

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