Xiiiii, lá vem ela com aquele papinho chato…ainda mais que é dia mundial do meio ambiente. Hoje, no Dia Mundial do Meio Ambiente (data muito importante para os ambientalistas…é que nem Natal), o meu grito é de cansaço. De saco cheio…até meio P da cara assim, sabe?
Neste dia 5 de junho, no Dia Mundial do Meio Ambiente, eu não vim falar para você que tem que separar o lixo orgânico do reciclável e dos rejeitos, que tem que dar preferência a sacolas retornáveis (gente, é brega demais sair carregada de sacolas plásticas em uma compra de supermercado).
Eu não vim aqui falar que você tem que diminuir sua pegada de carbono mudando suas atitudes, como usar menos o carro, optar por ir a pé a alguns lugares quando possível, usar a bicicleta ou o transporte público. Que tem que economizar energia, economizar água no banho, ao lavar a louça, escovar os dentes (caraca, falar que tem que fechar a torneira enquanto faz isso é o fim da picada).
Evitar o desperdício de alimentos, descascar mais e desembalar menos. Compostar então, vão me dizer que estou ficando louca. Nem vim lembrar o fumante que a bituca de cigarro é o resíduo mais encontrado por aí, deixando as calçadas feias, sujando parques e contaminando a areia da praia – porque sim, aquela coisinha aparentemente pequena é tóxica, polui rios e oceanos e não, ela não magicamente se desintegra ao ser jogada no chão. Ou que você tem que repensar o consumo desenfreado de cada coleção nova que aparece na vitrine ou nos sites chineses.
Também não vim aqui para dizer o óbvio: que o infame ‘PL da Devastação’ é um completo e vergonhoso absurdo, ou que meter a motosserra deliberadamente na nossa vegetação nativa, vendo árvores centenárias virando pó em segundos, é uma agressão que beira a insanidade e um crime contra o futuro, contra a humanidade.
Já cansei disso… isso é o que eu falo todos os dias aqui. E parece que a gente tá enxugando gelo, falando com as paredes, ou pior, que estamos apenas cumprindo um protocolo social de “pessoa consciente”.
Sabe o que realmente me cansa? É ver que, apesar de tanta informação, tanta campanha, tanta evidência científica esfregada na nossa cara, a mudança real, aquela que transforma, parece andar na velocidade daquela preguiça do filme zootopia. Cansa ter que implorar o óbvio: que sem um planeta saudável, não existe economia, não existe saúde, não existe futuro.
Cansa ver a hipocrisia de discursos lindos e práticas devastadoras. Cansa ver o individualismo se sobrepondo ao bem coletivo, como se o lixo que você joga na rua magicamente fosse desaparecer e não entupir o bueiro que vai alagar a casa de alguém. Pra mim, cuidar dos resíduos é um ato de amor ao próximo. Cansa ver a ganância de poucos destruindo o que é de todos, muitas vezes amparada por quem deveria proteger.
Neste dia 5 de junho, o que eu queria mesmo era não precisar mais falar sobre o básico, nem sobre esses absurdos que deveriam causar revolta instantânea. Queria que o básico já fosse parte intrínseca de cada um, como respirar. Queria que a preocupação com o meio ambiente não fosse um “tema”, mas um valor inegociável, uma urgência sentida na pele.
Então, nesse Dia Mundial do Meio Ambiente, em vez de repetir a cartilha, eu só queria desabafar essa exaustão. A exaustão de quem vê o tempo ar, as consequências chegando e a ficha de muita gente demorando uma eternidade para cair. Talvez, só talvez, quando a água bater de verdade na bunda, e não for só uma metáfora, a gente acorde. Ou que não se tenha mais água tão fácil ao nosso alcance…Mas aí, o cansaço pode ser de outro tipo, bem mais desesperador.
E enquanto esse dia não chega, ou justamente para que ele não chegue da pior forma, talvez a gente devesse se apegar àquela fala do Cortella: “Faça o teu melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores, para fazer melhor ainda!”. O meu desabafo, no fundo, é o cansaço de ver que o “melhor” que temos hoje, dentro das condições mais simples e íveis a quase todos – não jogar lixo no chão, economizar água, cobrar coerência dos nossos representantes, consumir com consciência – ainda parece ser um esforço hercúleo para tantos. Se esse mínimo “melhor” individual, feito com o que já temos à mão, não acontece com a urgência que o planeta implora, como sonharemos em construir juntos as “condições melhores” para um futuro que ainda teimamos em querer chamar de nosso? Fica a reflexão, e a esperança magra de que o cansaço de hoje se transforme na ação efetiva de amanhã.
FELIZ DIA DO MEIO AMBIENTE
